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origem caiçara • cultura • pesca artesanal

Ocupar é vital

“Não temos que considerar perdido o tempo do diálogo que, problematizando, critica e, criticando, insere o homem em sua realidade como verdadeiro sujeito da transformação”

(Paulo Freire)

 

 

Os projetos de “revitalização” urbana nas grandes cidades recebem o apoio de instituições da sociedade civil, das quais fazem parte os meios de comunicação hegemônicos e empresariais. Embora possam significar “modernização” ou “renascimento” de áreas desvitalizadas, embutem processos de segregação e violação de direitos contra os moradores locais. O fenômeno da gentrificação representa o avanço dos interesses do capital com o consequente esvaziamento do espaço público. Governos e prefeituras aparecem como facilitadores, criando dispositivos legais que contribuem para a privatização dessas áreas.

       A pergunta obrigatória neste e em outros projetos em curso na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, incluindo espaços ameaçados pela força da especulação imobiliária em praias da Região Oceânica de Niterói é: “revitalização” para quem ou pactuando com que tipo de público? A escolha por um modelo de cidade voltada para a lógica do condomínio, restrita a uma pequena parcela da sociedade, no lugar de propiciar condições favoráveis para integração do espaço urbano, é fonte de mais violência e exclusão, anulando relações de pertencimento dos moradores com o seu território.

      A proposta do OCCuPA Itaipu leva em conta a construção de uma agenda que contemple processos mais democráticos na cidade. O objetivo do site, criado por alunos da disciplina Atividade de Projeto de Extensão, do curso de Comunicação Social da Universidade Federal Fluminense (UFF), é abrir um canal de interlocução com a comunidade daquela tradicional colônia de pescadores de Niterói, reconhecendo a importância da preservação dos conhecimentos, práticas e saberes locais num momento em que se intensificam as ameaças em duas frentes: na terra, com a pressão imobiliária que avança para as áreas mais próximas da costa e no Morro das Andorinhas, onde moram os pescadores artesanais; e no mar, de onde eles retiram seu sustento. A degradação da Lagoa de Itaipu e a pesca industrial sem manejo são problemas concretos que põem em risco as futuras gerações de pescadores naquele (re)canto de Mata Atlântica no litoral de Niterói.

       O nome OCCuPA, além do significado do verbo “ocupar”, foi criado a partir das iniciais das palavras “Origem Caiçara”, “Cultura” e “Pesca Artesanal” com a finalidade de resgatar a memória e os modos de ser e fazer dos moradores objetivando construir um trabalho coletivo e contínuo na produção de contrassentidos aos discursos hegemônicos entre os diversos atores sociais: alunos da UFF, moradores e pescadores artesanais.

      O símbolo da poita usado na identidade visual deste projeto se coaduna com os objetivos deste encontro entre a universidade e a sociedade para além dos muros dos campi. Âncora artesanal usada em redes e pequenas embarcações de pesca, poita tem origem indígena e significa, em tupi, permanência, estabilidade, pois ajuda a manter as canoas em boa posição no mar para o trabalho de pesca. A valorização da cultura e das origens dos pescadores artesanais significa também pensar o espaço público não como valor de troca, mas de uso por parte dessas famílias que buscam permanência para desenvolver suas atividades de lazer e trabalho no território. Para além das noções espaciais, neste incidem relações afetivas e simbólicas, que o transformam em território existencial, este também gravemente ameaçado por processos de “revitalização” e gentrificação.

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